Confesso a vocês, minha cara leitora, meu caro leitor, que baqueei. Passei a semana me questionando se vale a pena continuar a escrever e falar sobre liberdade e insistir na defesa do liberalismo como alternativa ao modelo político que está vivo no Brasil, uma desgraça que usa a maquiagem da democracia para ter poder absoluto. Quem me ouvirá? Quem anda a ler o que escrevo?
Nesse processo de auto-terapia, eu tomei algum tempo do bom amigo, o jovem liberal, Gabriel Menegale e dele ouvi um alerta que, imediatamente, transformei em conselho. Disse-me ele: “É interessante (ou trágico) observar que quando a sociedade não se mobiliza contra as pequenas restrições à liberdade – “aquele deputado exagerou, mereceu, vamos flexibilizar a imunidade parlamentar; “aquele inquérito é necessário, é uma exceção”; “aquele direito assim ou assado não é absoluto; “a Constituição não precisa ser exatamente desse entendimento”…- rapidamente o autoritarismo vai escalando, escalando, escalando, querendo cada vez mais poder, corroendo as liberdades todas e, com isso, e necessariamente, a própria democracia que prometia defender”.
Quase imediatamente ao ler o que me escreveu Menegale, assisti uma palestra da Juliana Benício no YouTube. Eu a admiro. Ela é uma das pessoas que insiste na defesa da liberdade, uma liberdade com moderação, um comportamento que só faz sentido para os liberais se for algo voluntário e nunca imposto. Pois se imposto for, não será moderação, mas renúncia às próprias opiniões. Na palestra, Juliana usa Camus e o personagem do livro O Estrangeiro, Meursault para falar de si mesma e, com base na experiência pessoal, defender a moderação, para, ao final da fala, apontar a escola como lugar onde se deve praticar a moderação. A prática da moderação desde a escola, diz Juliana, permite que o comportamento seja de toda a sociedade. Mas, é possível indignar-se com moderação? Esta é uma pergunta que faz sentido para quem advoga que se saia da indignação para a ação. Certamente, só a educação consegue o milagre. Juliana exemplificou a moderação no comportamento de usuários de um veleiro, quando eles aceitam mudar de lado para equilibrar o barco e fazer com que toda a tripulação chegue bem ao destino. A que destino?
Retorno ao amigo Menegale. Ele mostra que o destino da nossa viagem – do veleiro – é uma ilha onde não se terá mais liberdade. A viagem é num barco de onde se joga ao mar o peso que o impede de navegar e os viajantes são escravos orientados pelo chicote do condutor.
Aproveito a imagem criativa oferecida por Juliana Benício e os conselhos do Gabriel para dizer que é hora de colocar no rumo certo o veleiro onde estão os que defendem a liberdade e fazer isso de tal modo em relação ao vento, que impeça que os nossos adversários, hoje auto classificados como inimigos, nos roubem o vento que nos mantém navegando. Eu desejo um país onde exista espaço para os moderados e para os extremistas, todos mantidos em seus limites em razão de leis votadas por todos e não criadas pelas canetas dos verdugos e por seus martelos. O melhor ensino da moderação é a tolerância entre moderados e extremistas tendo-se a lei pronta para evitar os excessos de uns e de outros.
Não quero encerrar sem aproveitar a deixa da Juliana Benício para sugerir que quem não leu “O Estrangeiro” faça isso na primeira oportunidade. Camus criou uma obra onde a reflexão não está na fala dos personagens, mas na imaginação dos leitores. É um magnífico exercício para a inteligência que julga. No livro você vê a ação dos personagens, mas percebe que alguma coisa falta ali e isso fica por conta da sua imaginação e capacidade de julgar. O jornalista Camus entregou ao mundo excepcional exemplo de liberdade para o livre pensar.