“Os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir. O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol. Há alguma coisa sobre a qual se possa dizer: Vê isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós…” (O livro de Eclesiastes ou do Pregador, 1: 8/10).
Com base nisso, comecemos. A Direita nunca venceu uma eleição para a Presidência do Brasil. Com Jânio, Collor e Bolsonaro, tivemos uma imitação ridícula, grosseira e, por isso, a experiência não se sustentou. Desde o Marechal Deodoro da Fonseca, proclamador da república, função que Lula, o poderoso, lhe tomou para entregar a outro Marechal, ao Floriano, os presidentes foram e têm sido cultuadores de um Estado enorme, poderoso, parasita e carrasco. Isso não muda. Para a turma da esquerda o povo nunca está pronto, completamente maduro, para assumir, por si mesmo, o destino de um país. Por isso, Lula acha a independência uma grande bobagem, seja ela do Banco Central, do Congresso Nacional, de qualquer um, até mesmo do partido que a ele serve como os eunucos servem aos reis.
Outro fato é que o povo brasileiro não gosta de alternância no poder. Getúlio Vargas governou como ditador e retornou eleito. Vejam vocês, Lula está pela terceira vez na presidência e quando não pode estar, deslocou Dilma para lá. Fernando Henrique governou por dois tempos e mais não fez por ter, por esperteza, preferido Lula no lugar de José Serra, para poder voltar adiante. Não deu certo. César Maia foi prefeito três vezes do Rio de Janeiro e quando não pode ser, ele colocou Conde no lugar dele. Eduardo Paes ocupa a Prefeitura do Rio pela terceira vez. Em São Paulo o PSDB é e sempre foi poder. Hoje está lá disfarçado na pele do governador Tarcísio. Quando a alternância aparece em algum canto, logo o sistema volta ao eixo original. Gente, nem no futebol brasileiro há alternância de poder. Se vocês duvidam, olhem por onde passam os técnicos e como se dá a eleição nos clubes. O meu Fluminense é presidido pelo mesmo grupo político desde 2010, depois de 5 eleições consecutivas. No Brasil, tudo conspira contra as alternâncias. Elas dariam voz às oposições e as oposições só seriam governo após eleições, mas por aqui os opositores acomodam-se aos governos assim que as campanhas terminam. A repugnância às alternâncias justifica o apreço aos mandatos vitalícios que sobram por aqui.
Criou-se um ti, ti, ti danado com a troca do comando no Exército. Isso também é coisa nossa e velha. Os militares brasileiros sempre estiveram divididos na compreensão da missão que lhes cabe numa democracia. Uns são pelo poder conquistado com golpes e outros, legalistas. Olhem para a História. Mesmo durante o tempo deles na presidência, estavam divididos entre os que queriam o poder para sempre e os que gostariam de devolvê-lo aos civis. No momento, uns reconhecem em Lula um presidente legítimo, outros só um sujeito detentor de uma mandato legal conquistado sabe-se lá como.
Outro ponto da nossa cultura está com as leis, Elas sempre foram e têm sido fabricadas para atender às conveniências dos legisladores e aplicadas ao proveito dos juízes. As leis são só instrumentos para justificar as decisões e, por isso, não podem ser claras, compreensíveis e de uma só interpretação. Elas estão prontas para servir aos julgadores, quando lhes é conveniente prender, soltar, punir e aliviar. Nisso está justificada a existência da Constituição Brasileira, que tem mais de 200 artigos e quase o mesmo número de remendos.
O desrespeito aos resultados das eleições também não é coisa nova. Presidentes, governadores, deputados, senadores, vereadores e prefeitos eleitos não duram o tempo dos mandatos, mas o prazo que aproveita a quem neles não votou. Eles são retirados ou por votos nos plenários das casas legislativas ou por uma canetada do judiciário. E o resto corre bem.
Em tudo está certo o Pregador, com quem comecei essa peça. “Aquilo que é torto não se pode endireitar; aquilo que falta não se pode calcular.”Eclesiastes 1:15).
“E apliquei o meu coração a conhecer a sabedoria e conhecer os desvarios e as loucuras, e vim a saber que também isto era aflição de espírito. Porque na muita sabedoria há enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor”. (Eclesiastes 1: 17/18). Assim anda o meu coração liberal… Tanto mais aprendo sobre liberdade e olho a História da política no Brasil, mas sinto a dor que a desesperança provoca.