Qualquer mercadoria em excesso no mercado perde valor, e com a moeda não é diferente. Em 1955, na ocasião da fundação de Brasília, quando o governo federal autorizou a emissão de moeda para financiar a construção da nova capital, houve excesso de oferta, e a consequente perda do poder de compra de toda a população. Tal fenômeno monetário é denominado inflação, e, como era de se esperar, ela decolou a partir de 1960. A principal função do Banco Central é garantir a estabilidade do poder de compra, e, para isso, é imperativo que ele se mantenha independente do governo.
No Brasil dos últimos anos, políticas populistas e intervenções determinaram que o Banco Central emitisse desenfreadamente moeda para financiar políticas de crédito e auxílios sociais. Como era de se esperar, a inflação em 2010, no final do governo Lula, foi de 4,3% para 5,9%, e em 2015, no governo Dilma, acelerou para 10,7%, ocasionando forte aumento do desemprego, fraudes contábeis e impeachment. Ambos os governos fizeram do Banco Central refém de suas políticas econômicas, gerando uma perigosa bola de neve de emissão monetária irresponsável.
Quem mais sofre com a inflação é sempre o mais pobre, que destina a maior parte (quando não toda) da sua renda para o consumo imediato, sem conseguir investir para tentar se proteger. O aumento dos preços determina imediatamente a perda do seu poder de compra. Não à toa, a inflação é vista por economistas como “o imposto mais perverso”.
A manutenção de uma taxa de juros alta é a principal ferramenta do Banco Central para reduzir o dinheiro circulante e controlar a inflação. Fazer campanhas por juros mais baixos, como o governo petista faz, tentando pressionar politicamente o Banco Central, é semelhante a dizer que o seu time de futebol deverá fazer gol, independentemente de se o plantel é bom, profissional e habilidoso. Ter juros baixos é bom para o mercado pois significa crédito barato para financiar pessoas físicas e jurídicas, mas não à custa de “canetada”, e sim com ações que sinalizem a manutenção das contas públicas sob controle.
O governo Lula, antes mesmo de assumir, aprovou rombo de R$ 170 bilhões no orçamento atual, criou quinze novos ministérios, aumentou salários de todo o Legislativo e Judiciário na casa de dezenas de bilhões, bem como já propôs uma medida de aumento para o Executivo que terá impacto em torno de R$ 11 bilhões. Ora, por mais que digam haver boa vontade, sinalizam justamente um desgoverno fiscal. Como diria o político francês Talleyrand, “não aprenderam nada, não esqueceram nada”.
* André Marchesi é Diretor de Formação do IEE