Era uma vez..
O ano é 1750, e os britânicos acreditam que seis milhões de pessoas que constituíam a população na época era um número excessivo demais para as Ilhas Britânicas: o que lhes esperava era a fome e a peste. Entretanto, em 1939, cinquenta milhões de pessoas viviam nas Ilhas Britânicas com um padrão de vida incomparavelmente superior ao padrão com que se vivia em 1750.
Talvez o mais natural do ser humano seja uma das suas maiores fraquezas: acreditar que tudo que está acontecendo é único. Compreensível, quem não gosta de se sentir importante? Se fosse “só mais um”, não seria especial. “A nossa geração é diferente das outras, isso nunca aconteceu antes”. Será mesmo? Por mais que seja difícil se desapegar da ideia, talvez não sejamos tão especiais como pensamos, mas sim parte de algo maior. Algo que se repete, algo que já se repetiu e irá se repetir no futuro em constante evolução.
Hoje temos medos. Aquecimento global, guerras nucleares, robôs substituindo seres humanos no mercado de trabalho, doenças sem cura entre outros. De fato, existem preocupações. Assim como os britânicos tinham medo em 1750.
O Outro Lado da Moeda
Agora, existem oito bilhões de pessoas. Oito bilhões de cabeças pensantes. Oito bilhões de pessoas que vivem na melhor era da humanidade até hoje. Antes da crise do coronavírus, demorava-se mais de uma década para se desenvolver uma vacina: fizemos isso em menos de um ano quando a corda apertou. Se contássemos para nossos tataravôs que um dia alguém iria viajar pelo espaço, eles jamais acreditariam. E toda essa energia que possibilitou inovações que mudaram o mundo para melhor ´pode ser encapsulada em uma palavra: capitalismo.
Antes do advento do capitalismo no século XVIII e das primeiras revoluções industriais, não havia nenhum incentivo para que o ser humano inovasse. 95% das pessoas viviam abaixo da linha da pobreza e tinham a obrigação de entregar a maior parte dos bens que produziam para os senhores feudais, sem recompensa alguma. O capitalismo trouxe a liberdade para as pessoas tomarem as suas próprias decisões e seguirem suas ambições. Liberdades que hoje são banais, como a liberdade de expressão e liberdade econômica, nossos ancestrais teriam dado sua vida para possuir.
Segundo Mises, no livro As seis lições, “Duzentos anos atrás, antes do advento do capitalismo, o status social de um homem permanecia inalterado do princípio ao fim de sua existência: era herdado dos seus ancestrais e nunca mais mudava”. Imagine um mundo no qual não existia a opção de ser “promovido” ou ter um aumento salarial. Você iria se esforçar para inovar sem recompensa alguma por isso? A meritocracia da qual podemos desfrutar hoje é, de fato, uma conquista gigante
As seis lições, na prática
Barão de Mauá veio de uma família humilde, e se tornou o homem mais rico do Brasil no século XIX, melhorando a vida das pessoas através de inovações como a iluminação a gás nas ruas. Jack Ma passou fome na sua infância e hoje construiu um dos maiores impérios na China. Steve Jobs fundou a empresa mais valiosa do mundo, a Apple, sem ter nascido em um berço de ouro. E porque essas pessoas fizeram isso? Porque tinham o incentivo certo, a liberdade e a certeza de que seriam recompensados se seus esforços agregassem valor para a humanidade.
Em uma sociedade pré-capitalista, essa ascensão de classes seria um sonho muito distante, para não dizer um sonho impossível. No capítulo “Socialismo”, Mises cita um trecho que explica muito bem esse contexto: “… as famílias consideradas as grandes famílias aristocráticas da Europa permanecem as mesmas até hoje, há oito, dez ou mais séculos, mas numa sociedade capitalista há uma contínua mobilidade – pobres que enriquecem, e descendentes de gente rica que perdem a fortuna e se tornam pobres.”
“Se eu tivesse perguntado o que queriam, teriam dito cavalos mais rápidos”. Provavelmente, você já ouviu essa frase de Henry Ford. O caminho para inovação não é fácil, e nenhum desses empreendedores teria conseguido suas conquistas sem um fator muito importante: capital. Barão de Mauá fundou o Banco do Brasil e a primeira estrada de ferro, porém, grande parte desse capital não veio do seu próprio bolso, e também não de acionistas brasileiros, mas sim de acionistas britânicos, que, na época, eram o país com maior potência mundial financeira.
A entrada do capital estrangeiro é um pilar determinante para o sucesso de países que estão em desenvolvimento, vide o Brasil. Na sua quinta lição, “Investimento estrangeiro”, Mises diz: “Uma única coisa falta para tornar os países em desenvolvimento tão prósperos quanto os Estados Unidos: capital”. Certamente, sem o capital oriundo de economias fortes, grandes empreendedores como Barão de Mauá não teriam conseguido mudar o país para melhor.
A Futura Terra Prometida
Cada ser humano é responsável pelo seu próprio destino e futuro em uma economia livre. E nós, brasileiros, como nação, somos responsáveis pela direção que iremos seguir. Não deixamos nada a desejar para nenhum trabalhador internacional, seja em competência, determinação ou criatividade. Somos inovadores, resilientes e, sobretudo, somos uma esperança que foi quase morta por décadas de intervencionismo governamental na economia. O que nos falta é capital para brigarmos de igual para igual com países desenvolvidos. Talvez, o primeiro passo para deixarmos de ser o eterno país do futuro seja inserir o livro As seis lições como leitura no ensino médio. Afinal, em um ponto acredito não haver diferenças: tudo começa na educação.
Fecho meu raciocínio com o filósofo René Descartes que dizia que podemos duvidar de tudo, somente não podemos duvidar da dúvida, pois ela sempre irá existir. Acrescento que também não podemos duvidar da capacidade do ser humano de inovar, de se adaptar, de resolver problemas e de seguir em frente evoluindo.
*Por Marcelo Bragaglia, do Instituto de Formação de Líderes (IFL)