Assim como na imprensa, na Universidade, por parte tanto dos docentes quanto dos discentes, há uma postura quase que unânime de criticar políticos evangélicos porque, segundo eles, estes estão misturando religião e política, e indo contra a separação entre Igreja e Estado que os iluministas tanto defenderam. O laicismo militante dessa gente deseja excluir Deus e a religião da vida pública.
Na matéria Filosofia e Política, fiz uma prova em que na primeira questão minha professora colocou uma notícia do UOL sobre declarações do senador Sérgio Moro em relação à cassação do deputado Deltan Dallagnol, na Marcha para Jesus, onde ele dizia que Deltan foi cassado porque o Brasil “vive uma fase de ódio no coração e mente de algumas pessoas”. Ele também pediu orações “não só pra que nós possamos ter justiça na Terra em relação ao Deltan, mas também para afastar das sombras os corações e mentes de Brasília”. E afirmou: “Este homem aqui [Deltan Dallagnol] sofreu nesta semana uma gigantesca injustiça, mas que eu atribuo a esse sentimento de ressentimento e de ódio. E se a gente se deixa, e isso todo mundo sabe, se dominar pelo ódio e pelo ressentimento, a gente se afasta cada vez mais de Deus e de Jesus”.
Também foi citada a afirmação de Deltan, de que “uma vingança sem precedentes está em curso no Brasil contra os agentes da lei que ousaram combater a corrupção”, porém afirmou que vai continuar “servindo a Deus e ao povo brasileiro”.
Nessa prova, deveríamos relacionar o ocorrido com o conteúdo da Carta sobre a Tolerância, de Jonh Locke. Nessa obra, Locke estabelece os limites do poder político com o intuito de convencer que o Estado jamais deve promulgar leis baseadas em preceitos religiosos, e que não é uma função do Estado o cuidado com a salvação das almas, pois essa tarefa pertence apenas aos indivíduos e às igrejas a que eles se associam.
Aí é que está! O pensamento dominante na Universidade é de que não se pode misturar religião com política, sobretudo o cristianismo, já que volta e meia defendem a manifestação da fé de religiões matriz africana e indígenas, por exemplo. Com seu comportamento, eles demonstram uma especial intolerância à fé cristã.
O ocidente, e a própria Igreja, aprenderam a duras penas que Igreja e Estado devem estar separados como instituições, mas isso não quer dizer que religião e política não se misturam. Com bases teológicas, os protestantes – Locke era um deles e também sou -, perceberam que o Estado não deve defender e promover uma determinada igreja ou religião, nem usar a força para impor uma determinada fé aos cidadãos. Entretanto, isso não quer dizer que uma pessoa não pode ingressar na política para defender seus princípios religiosos, com base legal e prevista pelo espírito de nossa Constituição.
Como disse Locke, cabe aos indivíduos religiosos a salvação das almas. E se estes forem políticos, como deixarão de lado seu propósito?
Dizer que a religião não tem nada a ver com a política é logicamente falso. O Estado é feito de pessoas, e elas podem defender e exercer a religião a qual pertencem. É impossível separar alguém de suas convicções. Ainda que o pensamento não-cristão de nossos dias resista em reconhecer, as leis de nosso país são embasadas na fé cristã. A moral bíblica fez-se jurídica na Carta Magna.
O artigo 3º da constituição federal estabelece objetivos para o Estado: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e qualquer outra forma discriminatória.
No âmago desses objetivos, há os princípios da caridade, do altruísmo, da compaixão, do reconhecimento da dignidade de todo ser humano, seja ele como for, porque nele também há a imagem de Deus, o respeito ao livre arbítrio, instituído por Deus, e o comprometimento com a justiça e a bondade, mediante o temor a esse Deus justo.
Com esses exemplos quis demonstrar que os valores cristãos são parte integrante da lei, e que há aclamação desses valores quando estes são os que citei, mas quando os cristãos continuam com seu papel de defender seus outros princípios, mas estes são contra o aborto, por exemplo, há histeria por parte dos críticos, e então vem a determinação de que não deveríamos introduzir Deus nessas questões, como se a existência dEle não implicasse necessariamente que Ele esteja em todas as áreas da vida humana.
É verdade que há falsos cristãos oportunistas, que se dizem convertidos, mas só estão tentando obter votos do grande eleitorado cristão do país. Contudo, isso não é a verdade sobre todos os candidatos e políticos cristãos, e isso não deve impedir que os honestos possam ter sua participação legitimizada. Nesse sentido, a Igreja deve entender que sua participação na política deve ser esta pura, que se preocupa com os valores que Cristo ensinou. E ela própria deve ser a maior inimiga dos perversos que traem esses valores que diziam defender.
E a sociedade deve entender que a participação da Igreja é legítima, quando feita dessa forma representativa na democracia, e que independentemente de qualquer coisa, há de se reconhecer que o cristianismo presenteou o ocidente e o Brasil com direitos que apreciamos, e leis que garantem a liberdade e respeitam a dignidade humana.