fbpx

Café adoçado e liberdade individual

Compartilhe

Como pode o Brasil deixar de ser o eterno país do futuro? Com uma política predominantemente populista, com intervencionismo estatal, grupos de privilégios e complexidade legislativa, não há chances de alcançar o êxito.

Um estudo publicado em outubro de 2022 constatou que, desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, foram editadas mais de 7,1 milhões de normas, o equivalente a uma média de 829 normas editadas por dia útil (IBPT, 2022). Em São Paulo, podemos encontrar uma lei que regulamenta a comercialização de café adoçado (Lei n.º 10.297/99). O panorama legislativo brasileiro não é reflexo da dinamicidade da sociedade ou da necessidade de melhorias, mas, sim, reflexo de prolixidade, regulamentação exorbitante e da insegurança jurídica que predominam no país.

O artigo 5º da Carta Magna estabelece a garantia da “inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Se é esta uma das funções máximas do Estado brasileiro – proteger os direitos fundamentais dos indivíduos –, não é isso que deveria ser feito por meio das normas implementadas?

Leia também:  Dezembro e as falsas promessas

O rol interminável de leis criadas para cada aspecto da vida em sociedade acaba por tornar os indivíduos reféns do Estado, e não por protegê-los, como bem leciona Ayn Rand. Não há espaço para desenvolvimento de novas ideias, trocas e progresso em uma sociedade engessada, na qual não há autonomia individual, e é por isso que as pautas sociais dependem, necessariamente, do foco no indivíduo. A liberdade individual pressupõe que cada pessoa possa fazer escolhas sobre a própria vida, de modo que expresse suas convicções e persiga seus objetivos com base em seus interesses e valores. A liberdade é o motor para a construção de uma sociedade plural e inclusiva.

Cada ação livremente adotada pelos indivíduos acarreta consequências, que devem ser assumidas pelos responsáveis. A responsabilidade é essencial para o funcionamento adequado da liberdade, estimulando escolhas individuais com impacto positivo e ético. Por outro lado, um Estado excessivamente presente na vida dos cidadãos inibe o desenvolvimento pessoal e compromete a convivência harmoniosa, retirando o direito de escolha e suas consequências naturais. Nassim Nicholas Taleb explica esse raciocínio pela definição de que “a burocracia é uma construção pela qual uma pessoa é convenientemente separada das consequências de suas ações”. 

Leia também:  Prevenir é melhor do que remediar?

O excesso de leis e burocracia estabelecidas no Brasil representa a centralização da tomada de decisões e o cenário descrito por Murray Rothbard: o Estado visto como uma instituição de serviço social representante da maioria das pessoas, mas que, na verdade, atua no interesse de classes específicas e que visa a sua prevalência no poder. A sua existência deveria proteger, e não transgredir, a liberdade individual das pessoas. A Constituição Federal e a divisão de poderes deveriam ser formas de se estabelecer essa fronteira. O que ocorre, contudo, é que o Estado se torna, no fim das contas, o juiz de sua própria causa.

Se quisermos que o Brasil seja um país que dê certo, precisamos começar agora, sem regulamentar o cafezinho. O Brasil precisa de regras mínimas, claras, e de segurança jurídica. A única forma de promover o bem-estar social e fazer com que o padrão de vida das pessoas melhore é por meio da liberdade: liberdade de trocas positivas, liberdade de ação humana, liberdade para a cooperação social. O Brasil do futuro não é o de hoje, mas a solução está ao nosso alcance: dentro de cada indivíduo, no seu desenvolvimento e na inovação, decorrentes da liberdade individual.

Leia também:  Dezembro e as falsas promessas

*Por Daniela Raad, do Instituto de Estudos Empresariais (IEE).

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

Mais Opinião

plugins premium WordPress
Are you sure want to unlock this post?
Unlock left : 0
Are you sure want to cancel subscription?