Por Maria Clara Martins Rodrigues*
A filosofia construiu o mundo. Considerada a mãe das ciências, de onde todas partiram, ela elaborou conceitos, conhecimentos e métodos que impulsionaram o desenvolvimento da matemática, das ciências biológicas, sociais, das artes, da física… Por isso é tão fundamental para o avanço humano e para a compreensão do mundo em que vivemos.
Hoje em dia tem-se uma ideia de que os filósofos são os que “viajam na maionese”, não fazem nada útil e se debruçam sobre questões irrelevantes. Mas ainda hoje existem bons filósofos, e precisamos cada vez mais deles, inclusive se não concordamos com aquilo que eles pensam.
Precisamos deles porque são seres que refletem com calma e profundamente antes de formarem opinião, buscam conhecimento, diferentes pontos de vista, e elaboram conceitos, teorias e reflexões que explicam o mundo. Precisamos porque eles ampliam nossa perspectiva, nos ensinam a discordar intelectualmente com argumentos, não com xingamentos e deboches, como estamos acostumados a ver em nosso tempo.
O que aprendemos na filosofia é que aquilo que pensamos, provavelmente já foi pensado, e muito melhor, pelos que vieram antes de nós. Então para conseguirmos nos destacar, precisaremos partir de onde eles pararam. Mas o filósofo deve ser autêntico. Mesmo influenciado por outros pensadores, ele deve pensar por si mesmo. Esse é o desafio dos nossos tempos, onde todos pensam igual, pois não suportam a dor de serem indivíduos diferentes.
Com a marginalização da filosofia, temos hoje uma sociedade mais medíocre, facilmente manipulável, que lida com perguntas que a filosofia responde, e tolera uma vida sem as perguntas que a filosofia propõe. Vivem vidas superficiais, com problemas que seriam facilmente evitados pela sabedoria.
Por exemplo, ao exercitar a atenção plena num livro, coisa que a filosofia exige, podemos evitar o estresse e a ansiedade, já que isso nos ajuda a estarmos presentes no momento presente, facilitando que sejamos mais saudáveis e felizes.
Ao estudarmos a ética, que é o estudo da moral, podemos encontrar maneiras de lidar com as situações cotidianas de forma mais justa, calculando que nossas atitudes levem em conta a dignidade das pessoas, e assim estabeleça uma convivência melhor para todos.
A filosofia, por estudar o ser humano, também contribui para o autoconhecimento, nos ajudando a entender nossas emoções, pensamentos e comportamentos, nos tornando capazes de identificar padrões negativos e maneiras de mudá-los.
A filosofia também nos ajuda a praticar o questionamento crítico, que pode nos livrar de mentiras e armadilhas intelectuais, que se mostram prejudiciais quando vistas com honestidade e inteligência.
A filosofia também nos ensina habilidades de diálogo e argumentação, e isso resolve metade de nossos problemas de comunicação, então consequentemente colabora positivamente em nossas relações sociais.
Outro aspecto relevante da filosofia é sua contribuição no campo político, que nos capacita a compreender as bases filosóficas e os princípios que regem a sociedade. A filosofia política nos leva a refletir sobre questões fundamentais para a construção de sociedades mais justas e melhores. Estudar filosofia política pode salvar a humanidade de viver tragédias exponenciais, porque nos torna aptos a identificar aquilo que é bom, e o que é prejudicial.
Em um mundo cada vez mais complexo e cheio de informações, a filosofia nos ajuda a discernir o que é verdadeiro e o que é falso.
A boa filosofia faz cidadãos humildes, dispostos a ouvir, críticos de si mesmos, que estão sempre abertos ao diálogo e à racionalidade.
Em suma, ela desempenha um papel fundamental no mundo contemporâneo, que está cada vez mais complexo. Por isso é essencial que a filosofia seja valorizada e incentivada, para que possamos formar indivíduos conscientes, emancipados intelectualmente e autênticos.
A filosofia não é um curso que te forma numa profissão, mas que ajuda a formar quem você é. E esse foi um dos motivos que me levaram a escolher essa área como minha primeira graduação.
Faz-se ainda mais necessário que os filósofos voltem as ser os que ousam saber além do que é dado, que pensam além de uma única linha de raciocínio, que são estudiosos daquilo que vão criticar, e que se destacam na sua sociedade justamente por serem diferentes dela.
*Maria Clara Martins Rodrigues tem 19 anos, estuda filosofia na Universidade de Brasília, é cristã, antifeminismo, conservadora e liberal