A liberação da ozonioterapia gerou conflitos entre o governo Lula e a classe médica. Nelson Teich, ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro usou as redes sociais para criticar a liberação do tratamento. Nesse sentido, o Boletim da Liberdade conversou com o médico oncologista. Ele comentou sobre os riscos, bem como qual deve ser o papel do Estado a partir dessa decisão. Confira:
Boletim: O senhor já se manifestou contrário à liberação da ozonioterapia. Quais são os riscos desse tratamento?
Nelson Teich: “O grande problema é que o uso pode ser indiscriminado, excessivo, fora das indicações aprovadas, e realizadas por profissionais sem a qualificação necessária. Nesses casos é difícil prever o risco total, já que muitos problemas só são detectados quando o volume de uso é grande, quando se libera o uso para a população. Isso acontece, por exemplo, com medicamentos que são liberados para comercialização após aprovados com base em estudos que avaliam um número pequeno de pessoas e posteriormente são retirados quando o uso na população mostrou que existiam efeitos colaterais graves que os estudos iniciais não mostraram.
O ideal seria que a liberação acontecesse após a realização de estudos clínicos com metodologia adequada, que mostrassem claramente os benefícios e os riscos. No caso da ozonioterapia existem relatos de pessoas que morreram com o procedimento. Dentre os problemas graves, além de mortes, existem relatos de distúrbios visuais, paraplegias, embolia pulmonar, ataques cardíacos, lesões musculares e osteoarticulares e edema pulmonar. A inalação de ozônio nunca é recomendada, mas pode acontecer acidentalmente. Problemas pulmonares crônicos podem acontecer com inalação constante de ozônio.”
Boletim: Entidades da área da saúde não concordam com o tratamento. Quais as responsabilidades do Ministério da Saúde a partir dessa decisão?
Nelson Teich: “As entidades não concordam com o uso da ozonioterapia em situações que não são atualmente autorizadas pela Anvisa. Hoje existe oferta de ozonioterapia para indicações outras, sem comprovação científica e sem autorização pela Anvisa.
Na verdade, é necessário que estudos com metodologia adequada sejam realizados para que se consiga definir se existe indicação de ozonioterapia em condições clínicas específicas, fora daquelas hoje autorizadas. O ideal nesses casos é que o tratamento com ozonioterapia seja liberado em projetos de pesquisa clínica, para que informação de qualidade sobre benefícios e riscos sejam geradas.
São dois problemas práticos. Em primeiro lugar, o uso em situações em que o benefício clínico não está comprovado. Nessas situações qualquer risco é inaceitável. Em segundo lugar, o uso indiscriminado, em alta escala, na população, por profissionais não qualificados, incluindo as indicações sem comprovação de benefícios clínicos. Nesse caso a exposição das pessoas pode ser muito grande, os riscos aumentam, e as consequências são difíceis de prever.
Um gestor público precisa avaliar não só os benefícios e riscos quando ele libera uma droga ou procedimento. Ele precisa avaliar e projetar o uso indevido e os riscos para a sociedade.”