O Vasco da Gama, clube tradicional do Rio de Janeiro, enfrenta batalha judicial para conseguir jogar em São Januário. Na última semana, principalmente, decisões de membros do judiciário geraram polêmicas, que os torcedores classificaram como elitistas, preconceituosas e de perseguição.
No final de junho, um grupo de torcedores do Vasco arremessou objetos no gramado e depredaram carros de funcionários do Cruzmaltino. Além de toda confusão que aconteceu no entorno de São Januário entre torcedores e a polícia. O incidente ocorreu após a derrota por 1 a 0 para o Goiás durante um momento delicado do clube na tabela do Campeonato Brasileiro.
Logo depois, no início de julho, o caso foi a julgamento no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), que puniu o Vasco em 30 dias de jogos de portões fechados como mandante e visitante, e multa de R$ 60 mil. O clube cumpriu a punição e recebeu autorização para jogar no Maracanã. Entretanto a decisão de um desembargador revoltou a torcida e jornalistas da mídia esportiva.
O desembargador André Luiz Cidra reverteu a decisão da primeira instância que autorizava o mando de campo do Vasco no Maracanã contra o Atlético-MG. Cidra alegou que a presença do Vasco no Maracanã prejudicaria o gramado do estádio, que atualmente está sob administração do Flamengo e o Fluminense em licitação provisória.
São Januário não!
O Vasco, porém, também não poderia receber torcedores em São Januário por uma decisão do Ministério Público, mesmo estando liberado pela Justiça Desportiva. De acordo com o juíz Marcello Rubioli, do Juizado Especial do Torcedor e dos Grandes Eventos, São Januário não tinha estrutura para receber público por estar no entorno de uma comunidade.
“[…] Partindo da área externa à interna, vê-se que todo o complexo é cercado pela comunidade da Barreira do Vasco, de onde houve comumente estampidos de disparos de armas de fogo oriundos do tráfico de drogas lá instalado o que gera clima de insegurança para chegar e sair do estádio. São ruas estreitas, sem área de escape, que sempre ficam lotadas de torcedores se embriagando antes de entrar no estádio”.
O argumento de Rubioli, gerou revolta nos moradores da Barreira do Vasco, que se prejudicaram diretamente com a falta de jogos. Muitos moradores da comunidade dependem da atividade em São Januário para sobreviverem com seus comércios.
“Sem a bilheteria temos o prejuízo econômico. Além de toda a economia do entorno de São Januário prejudicada. Toda a região vive da economia dos jogos do Vasco. Há um impacto direto. Isso não podemos aceitar”, disse Carlos Roberto Osório, vice-presidente do Vasco da Gama.
Por fim, o Vasco conseguiu na justiça que a partida contra o Atlético-MG no último domingo (20) acontecesse no Maracanã. Com mais de 55 mil presentes, que esgotaram os ingressos em menos de 24h, o Cruzmaltino venceu o Galo por 1 a 0.
125 anos de Vasco da Gama
Apesar disso, todo este imbróglio continua na semana em que o Vasco comemora seus 125 anos de história. Coincidência, ou não, os fatos recentes trazem à tona a principal batalha travada pelo clube em todos esses anos: a luta contra o racismo, elitismo e preconceito. O Vasco da Gama foi pioneiro em ter um elenco com negros, pobres e analfabetos. O fato incomodou poderosos do futebol à época, que decidiram criar uma nova liga, a Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA).
O Vasco, no entanto, só poderia participar da AMEA se excluísse 12 jogadores de seu elenco, popularmente conhecido como Camisas Negras, por não apresentar “condições sociais apropriadas para o convívio esportivo”. O clube, então, decidiu por unanimidade que não abriria mão de seus jogadores e, portanto, não disputaria a nova competição. A carta enviada à AMEA comunicando a decisão ficou conhecida como Resposta Histórica.
“O ato público que pode maculá-los nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias”, dizia um trecho da carta.