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Por mais Michelangelos e menos pichadores

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Na primeira aula de “Estética e Filosofia da Arte” ao se apresentarem, os alunos fizeram seus questionamentos sobre a matéria.
Alguém disse que gostaria muito de entender a arte contemporânea porque não via sentido nela. Falou que era confeiteiro e não conseguia aplicar essa arte no que ele faz. Comentou que seu trabalho precisa agradar aos olhos, e a arte contemporânea está distante disso. Outro colega falou sobre sua dificuldade com a disciplina porque não é uma ciência que se pode afirmar as coisas precisamente. No mundo em que estamos não se pode dizer o que é bonito ou feio, bom ou ruim. É tudo muito subjetivo e relativo. Uma aluna perguntou sinceramente o que era a arte.

O resto da sala falou que a arte era expressão de sentimentos, que arte era tudo, que uma arte é boa dependendo de quem julga, e outras coisas desse tipo.

O aluno que criticou a arte contemporânea a fez com razão. A arte contemporânea mostra que as pessoas contemporâneas não ligam para a beleza. “Belo” está ligado etimologicamente ao “bom”, portanto à virtudes. É mais bonita a arte elaborada, que para ser feita precisa de esforço, de dedicação, de virtudes. É bonita a arte que precisou de medição, de cuidado, de análise, de genialidade intelectual.

Não é que não exista um nível de subjetividade na beleza. A questão é que deve existir também um grau de universalidade. Mesmo que eu não ache a Monalisa a mulher mais linda do mundo, eu tenho que admitir que ela é uma obra de arte. E das mais geniais! Isso é colocar a honestidade intelectual (razão) acima dos meus gostos pessoais.

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Para Platão a beleza estava indissociada do bem, e a beleza e o bem elevam o ser humano à verdade. Tanto o bom quanto o verdadeiro sempre tiveram essa conotação sacra. Agostinho falou da beleza como ninguém. Para ele, Tomás de Aquino e outros religiosos, a beleza é uma característica de Deus, porque ela transmite ordem, harmonia e outras qualidades do divino.

Não é uma coincidência que no mundo “pós cristão”, onde tentam descartar Deus, a beleza tenha sido uma das primeiras a serem relativizadas e deturpadas, visto que suas premissas, como o bom e o belo, também tenham sofrido alteração de conceito.

Se tudo é bom, então por que preciso me esforçar para dar o meu melhor? Se tudo é belo, o feio deixou de existir? Hoje em dia fica difícil estabelecer esses conceitos porque estamos vivendo num tempo em que não se pode ofender as pessoas nem mesmo com a verdade.

Se você disser que o feio é o que falta, o que poderia ser concertado, o que prejudica e está errado, o que é defeituoso, caótico, desproporcional, desarmônico… as pessoas podem querer te acusar de estar ofendendo minorias, sendo eugenista, elitista, preconceituoso, ou o que mais puderem pensar na hora de irracionalidade raivosa.

Por que algumas coisas soam feias para a maioria das pessoas? Se os olhos são as janelas da alma, então o que não agrada aos olhos, de alguma forma a alma também regeita. Que relação a arte tem com a alma? Que efeito a arte causa na alma? A arte é produto da alma do artista?

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Quando o critério para dizer se algo é arte, é simplesmente o gosto pessoal de cada pessoa, então o sentimento e o gosto de cada um é a medida para o mundo?

Como responder a colega que perguntou o que é arte?

Arte é expressar sentimentos, disse alguém. Eu expresso sentimento falando, isso é arte? Qual a diferença entre falar e fazer arte?

Se não definirmos conceitos, não há premissa e assim não há debate, nem busca pela verdade, nem chegamos a lugar nenhum.

Talvez alguém possa dizer que afirmar que existe uma verdade absoluta impossibilita o debate, mas na realidade se não concordarmos que existe uma verdade além de nossos gostos e conceitos, então não há conversa, apenas palavras ao vento. Fora que, se cada um tem sua verdade, o relativismo não abre o debate, e sim o anula, já que você não pode atacar minha verdade nem eu a sua.

Se não há nenhum conceito universal, então não há como se comunicar. Assim não existe compreensão nem evolução.

A ideia de que não existe diferença qualitativa entre lixo e arte é absurda.
Há uma multiplicidade de coisas belas, mas um rabisco não é a mesma coisa que a Monalisa.

Que a arte de nossos tempos está mais para expressão do mau, em vez de elevação ao bom, parece uma análise razoável para mim. Isso afirma que arte não é só a sacra, que eleva ao divino, que introduz na alma virtudes, que traz beleza à vida, que remete ao bem e a verdade, mas essa é a melhor arte, sem dúvida.

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Eu não tenho uma definição de arte. Tenho de beleza, de verdade, mas de arte… não. Por enquanto prefiro a arte boa, bonita, verdadeira, que eleva ao bem, que mostra o bem. Mas também gosto da arte que expressa sentimentos, inclusive os ruins. Gosto da arte que humaniza, que entretém, que choca, que comunica o que está dentro da alma…

O que importa para mim é não relativizar a beleza, a verdade e o bem. É conseguir dizer que tal coisa é melhor que a outra. É ser justa com Michelangelo e poder dizer sem retaliação que a arte dele é melhor que a de um pixador de esquina, que o efeito de sua obra é deixar feia as propriedades alheias, e dessa forma magoar profundamente os donos, ao mesmo tempo em que tira a beleza do caminho de cada um que passar por ali. “Em nome da arte, da expressão dos marginalizados, do grito dos que são oprimidos”, a beleza é violada, o bem é deixado de lado, e a verdade é que se for para a arte “enfeiar” o mundo, mergulhá-lo mais ainda no mal e na mentira, pelo menos que não tenha a falsidade de se apresentar como bonita, bela e verdadeira.

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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