Passados nove meses desde os atos do dia 8 de janeiro, o Boletim procurou saber qual foi o impacto das prisões na vida de brasileiros comuns que estavam no QG do Exército. Esta reportagem mostra o lado de quem ainda vive à espera de uma decisão do Supremo Tribunal Federal para seguir livremente.
Nossa equipe ouviu relatos de integrantes dos acampamentos que falaram sobre o tempo em que estiveram presos, suas rotinas e o que esperam da sentença e do atual momento político do país.
Esse relato é de uma mulher, que será identificada apenas como TM. A personagem sempre foi engajada politicamente, tanto no seu estado quanto em nível nacional. Residente no sul do país, antes do dia 8 de janeiro, a empresária seguia sua vida normalmente, ao lado de seus dois filhos de nove e 11 anos, provedora do lar e mãe solo.
Quem é TM, presa no 8 de janeiro
De vida tranquila e pacata, TM viu sua vida se transformar da noite para o dia. Sem acesso às redes sociais, com restrições de horário e com a sua liberdade minguada devido à prisão. “Eu fui presa no dia 9 de janeiro com os demais patriotas que estavam acampados em frente ao QG. Mesmo eu não estando na cidade de Brasília fui presa e fiquei quatro meses em regime fechado no presídio feminino do Distrito Federal na Colmeia.
Ela não estava na esplanada dos ministérios. Ele desceu do ônibus no QG do exército e foi presa. E quando chegou ao local, se sentiu como em um campo de concentração. Somente depois, ela foi encaminhada para a Colmeia. “Na semana do dia das mães no mês de maio e continuei presa e com a tornozeleira até o dia de hoje. Eu tenho bastante expectativa positiva em relação ao meu julgamento”, contou a mulher.
Questionada se apesar de todo esse percalço percorrido por ela, qual é a expectativa sobre o seu julgamento, TM diz que
acredita que a justiça será feita. “Não há nada que deponha contra a minha idoneidade. Eu não fiz nada que possa vir a me condenar. Inclusive eu já paguei quatro meses em regime fechado e de tornozeleira por um crime que eu não cometi”, desabafou. Entretanto, TM defende que quem realmente depredou os prédios, deve estar preso e que não compactua com esse tipo de atitude.
Em relação ao atual momento político o sentimento de TM é de tristeza. “Tristeza desolação é um sentimento. Inclusive até eu me culpo muito assim como muitos brasileiros pelo atual momento político que estamos vivendo porque na minha opinião acho que a gente poderia ter feito mais e quando “descondenaram” o presidente Lula pra ele concorrer as eleições. Lá atrás os milhões e milhões de brasileiros patriotas deveríamos ter feito algo”.
Os rumos políticos do Brasil tiram o sono de TM. “Eu temo seja tarde demais pra recuperarmos o nosso país” disse a empresária.
Acordo
Pouco mais de mil ações penais derivadas do Inquérito (INQ) 4921, que investiga os autores intelectuais e as pessoas que instigaram os atos antidemocráticos do 8 de janeiro, tiveram a tramitação suspensa por 120 dias por decisão do ministro Alexandre de Moraes. O intuito é permitir que a PGR faça uma reanálise sobre a possibilidade de ofertar acordo de não persecução penal (ANPP) em relação às denúncias instauradas por crimes de médio potencial ofensivo.
Inserido no Código de Processo Penal (CPP) pelo Pacote Anticrime, o ANPP é um ajuste celebrado entre o Ministério Público e a pessoa investigada, acompanhada por seu advogado. Ele estabelece condições a serem cumpridas e é submetido à homologação judicial, para verificação dos requisitos legais. Cumprido integralmente o acordo, o juízo competente decretará a extinção da punibilidade.