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O sucesso dos doramas entre mulheres cristãs

Saiba mais sobre os motivos das séries coreanas serem tão amadas entre as cristãs brasileiras
Foto: Reprodução/Netflix

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Se você consome conteúdos nas plataformas do streaming, com certeza já ouviu falar de doramas — sim, aquelas séries e filmes com atores orientais, e que você possivelmente não sabe a diferença entre japoneses, coreanos ou chineses.

O termo dorama vem da pronúncia japonesa da palavra “drama” e foi recentemente incluída pela Academia Brasileira de Letras (ABL) no dicionário da língua portuguesa. Entretanto, a Associação Brasileira dos Coreanos, que representa a comunidade coreana no Brasil, informou que recebeu com descontentamento a novidade. De acordo com a associação, essa seria uma decisão preconceituosa. De qualquer forma, o dicionário brasileiro agora define a palavra como:

Dorama: substantivo masculino. Obra audiovisual de ficção em formato de série, produzida no leste e sudeste da Ásia, de gêneros e temas diversos, em geral com elenco local e no idioma do país de origem.

No Brasil, essas produções começaram a se popularizar em 2020, durante a pandemia. São normalmente histórias de começo-meio-e-fim, com duração de 30 a 50 minutos, em 16 ou até mesmo 32 episódios. Mas não é apenas isso que chama a atenção. Dos milhares de fãs que consomem as séries e os filmes, boa parte é cristã, e em sua maioria, mulheres.

Em 2022, o Brasil foi o quinto país que mais consumiu séries coreanas no mundo, de acordo com dados do governo da Coreia do Sul acessados pelo Box Brazil Media Group.

Romance de Dorama

O namoro “recatado”, “fora dos padrões”, tem sido um dos motivos de tantos cristãos se apaixonarem pelos doramas. Isso porque, pela religião, o namoro deve ser breve e sem muita intimidade. Nesse sentido, os relacionamentos presentes nas produções trazem uma identificação com a vida real da maioria dos jovens cristãos.

O príncipe no cavalo branco normalmente é interpretado pelo herdeiro rico e poderoso que se apaixona pela mocinha inocente. Ao longo do drama vê-se o crescimento do casal e ao mesmo tempo o amor floresce. Claro que, bem diferente de um amor de cinema hollywoodiano onde tudo acontece muito rápido, o casal cultiva o amor por meio de diálogos e convivência. Princípios importantes para um relacionamento cristão.

Ao longo das séries a espera pelo primeiro toque físico, normalmente após longos episódios, se resume a um tão aguardado aperto de mão ou um rápido abraço. Enquanto isso, a edição da cena faz uma pausa dramática e ao fundo surgem efeitos com fogos de artifícios. O  primeiro beijo é comemorado como a final de um campeonato, já significando um possível noivado. Os k-dramas expressam muito bem as emoções humanas, trazendo uma certa estima entre público e os personagens.

Outro ponto a se destacar é a modéstia, o dorama é um reflexo da cultura oriental que possui fundamentos conservadores. Por exemplo: é rara as cenas de nudez e conteúdos obscenos nas séries coreanas, o que se demonstra é um romance maduro, onde o foco é conhecer a pessoa, seus valores, seus hábitos, hobbies e sua origem familiar.

Dorameiras

A designer gráfico Léia Soares, de 24 anos, é cristã, filha de pastores e conta que já assistiu — pasmem, cerca de 200 doramas. “Eu estava fazendo faculdade em 2018, mas tive que parar devido algumas questões burocráticas, e acabei ficando em casa e um dos meus hobbies sempre foi assistir, lembro que comecei pela Netflix, vendo um dorama japonês, chamado “Itazura na Kiss”, assisti tudo em um dia, logo em seguida procurei outro, e fui descobrindo um universo maravilhoso, assinei plataformas de dorama e desse dia em diante nunca mais parei. pouquíssimas vezes parei pra ver filmes ocidentais desde então”.

A jovem conta que o que mais gosta nos doramas é o romance. “Aquele friozinho na barriga, é maravilhoso. Mas depois de descobrir os doramas descobri a cultura oriental que ganhou meu coração. Tradições, o respeito, a culinária e etc. Na época que descobri, estava solteira, então meu sonho era ir pra Coreia conhecer um coreano e viver meu dorama, mas depois de um tempo, a gente entende que não é assim que as coisas funcionam”, brinca.

Quando questionada sobre o porquê de tantos fãs crentes das séries, Léia responde que acredita que a diferença cultural seja o principal motivo.

“Diferente das comédias românticas ocidentais, onde tem muitas cenas explícitas que para um cristão não convém, os doramas são leves, com romance moderado, fazendo com que tomem nossa atenção. Não só isso, a cultura coreana em si, é bem conservadora e tradicional, com valores semelhantes aos valores cristãos, então preferimos consumir um conteúdo que não fere nossos princípios”, explica.

Léia em seu aniversário de 22 anos com o tema “doramas”

Outro fato curioso é que o público não é apenas jovem, como o caso da dona Graça Cruz, de 52 anos. Que conheceu os doramas por meio de sua filha do meio. Embora seja cristã, ela conta que não sabia da informação de que o consumo é maior pelos cristãos.

“Gosto dos romances, dos temas de princípios de família e caráter”, comenta.

Graça e sua filha do meio fazendo o símbolo coreano que representa um coração. Foto: Beatriz Alves

Construção afetiva e temas relevantes

Recentemente a página Efeito Prisma, conhecida por abordar temas da atualidade com o cristianismo, publicou sobre os aspectos que podem ser avaliados com a popularidade dos dramas orientais.

A página questiona sobre o sucesso que pode estar ligado a uma construção afetiva do romance sem muito apelo sexual. Os dramas vão no sentido contrário, até mesmo o vestuário dos personagens são mais formais, deixando quase nada a mostra.

Mas nem só de romance vivem os doramas. Há temas relevantes até mesmo no debate político, como a divisão entre as Coreias do Norte e Sul, retratado em Pousando no Amor — uma das produções de mais sucesso da Netflix. Há ainda temas como autismo em Uma Advogada Extraordinária, bullying no A lição e até mesmo sobre estética, uma vez que a Coreia é o país número um em cirurgia plásticas.

Em 2020, o filme Parasita, produção da Coreia do Sul fez história ao conquistar o Oscar de Melhor Filme. O thriller sul-coreano apresenta uma crítica social oriunda de relações entre diferentes classes sociais, e acabou gerando grande repercussão e conquistando prêmios renomados. Provando a qualidade das produções e a necessidade de que cada vez mais pessoas conheçam o mundo dos doramas.

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