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Pau que dá em Chico, não precisa dar em Francisco

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Por Marcus Vinicius Dias*

Uma das forças de uma democracia, como conceito e instituição, é a possibilidade permanente de, periodicamente, ocorrer a renovação no poder de plantão, ou seja, que grupos políticos alternem o comando do timão do navio. A oposição de hoje é o governo de amanhã e vice-versa!

Esse revezamento, sadio, é desejável por diversos aspectos, entre eles a manutenção bem-vinda de equilíbrio entre as forças políticas que se autorregulam e, por um sistema quase que de pesos e contrapesos, visam a manter uma homeostase no ambiente político.

Embora o clima eleitoral dos últimos anos no país aponte como uma anormalidade política termos partidos de esquerda e de direita, disputando entre si o voto do cidadão, sinto muito decepcionar alguns, mas eis aí exatamente o almejável em uma democracia funcional.

Deveria nos causar estranheza, e preocupação, a permanência de um mesmo grupo político no poder por décadas, bem como eleições vencidas com 90% de votos para um candidato e quase a totalidade de cadeiras no parlamento para um mesmo partido ou bloco.

O que não deveria ser admissível, socialmente falando, após tudo que testemunhamos no século XX, é a presença de grupos políticos defensores de regimes totalitários genocidas, como foram o nazismo e o comunismo. De resto, ter opostos é sinal de vitalidade democrática.

Um aspecto positivo do revezamento de poder é que quem hoje é oposição, ao assumir o poder percebe que, da cadeira e da caneta de quem decide, nem tudo são flores e de trivial resolução. Do mesmo modo, ao deixar de ser vidraça e se tornar pedra, quem já foi “situação” deveria ter um senso de maturidade e responsabilidade maior ao se opor e ao criticar ações de quem está com a bola nos pés.

O atual momento da epidemia da dengue pode se tornar uma ilustração do que mencionei acima. Em 2022, a chamada Varíola dos Macacos surge num contexto mundial como uma ameaça em potencial a um planeta ainda não recuperado da COVID. Mas ao contrário da pandemia que da Ásia se alastrou e mudou para sempre o mundo, a epidemia do vírus Monkeypox tinha um comportamento distinto, sobre todos os aspectos, do corona vírus.

Diante daquele cenário não havia qualquer necessidade de se decretar uma Emergência de Importância Nacional em Saúde. Tampouco havia no mercado global doses de vacina suficientes para uma imunização em massa.

No entanto, parte considerável daqueles que hoje estão com a responsabilidade da condução das políticas públicas de saúde no âmbito federal estavam nas trincheiras da oposição exigindo, a partir de suas tribunas e de seus postos, que o Ministério da Saúde de plantão decretasse uma situação de emergência que não existia e adquirisse, de todo modo, e a todo custo, vacinas que não estavam disponíveis.

Agora, uma vez no poder, são cobrados de algo no mesmo sentido, ou seja, que decretem uma emergência nacional por dengue e que arrumem 400 milhões de doses, para ontem, a fim de imunizar a totalidade da população.

Corretamente, hoje, aqueles que bradavam pela emergência e pela vacina da Monkeypox para todos vêm a público esclarecer à população que não ser trata de situação similar à COVID 19 e, portanto, medidas similares são, tecnicamente, desnecessárias. E, mais do que isso, incorretas.

A quem teve a caneta em 2022 e foi vítima desta verdadeira intolerância, por parte de quem hoje está no comando, cabe ter a maturidade trazida pelo revezamento de poder do qual falei acima e não usar do mesmo expediente, enquanto oposição.

A quem hoje, legitimamente, responde pelos rumos da saúde pública no Brasil, caberia um mea culpa de sua atuação no passado recente e demonstrar de que de fato não só o amor venceu, mas o espírito republicano desabrochou.

Caso isso não seja possível, que a passagem pelo governo atualmente não só sirva para o amadurecimento deste grupo enquanto “situação”, mas também os qualifique para o futuro como oposição pois, numa democracia verdadeira como a nossa, mais cedo ou mais tarde, tal situação, novamente, tornar-se-á uma realidade…

*Médico e gestor público, com MBA em Gestão em Saúde pela USP e Mestrado em Economia pelo IBMEC

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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