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Israel e Palestina: compreendendo a história e as repercussões do conflito

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Em 07 de outubro de 2023 um novo episódio do longo conflito entre Israel e Palestina atraiu os olhares do mundo quando membros do grupo palestino extremista Hamas realizaram um ataque surpresa durante um festival que era realizado próximo à Faixa de Gaza, resultando na morte de 260 pessoas, e no sequestro de várias outras dentro do território israelense.

No sábado, conhecido como shabbat, um dia especial para os judeus descansarem após uma semana de trabalho, começou como nunca antes na história de Israel. Uma chuva de mísseis sobrecarregou o sistema de defesa israelense enquanto homens voavam de parapente na fronteira entre Gaza e Israel. Em questão de horas, as cidades, pegas de surpresa, estavam repletas de fumaça e sangue, enquanto soldados, mulheres grávidas, idosos e até mesmo crianças eram mortas ou sequestradas em verdadeiras cenas de pânico e terror. Aquele era um ataque sem precedentes tanto em sua complexidade quanto em escala e nível de coordenação.

As atrocidades cometidas pelos terroristas levaram o governo de Israel a declarar guerra oficialmente contra o Hamas, com a promessa de erradicar essa organização, o que resultou em bombardeios e uma invasão terrestre da Faixa de Gaza, iniciando ali não apenas um conflito armado, como também um conflito de narrativas que envolveria entre outros países, o Brasil do presidente Luís Inácio Lula da Silva.

Mas afinal, qual a origem desse conflito que já dura mais de 70 anos? E onde o Brasil se encaixa em meio a tudo isso?

Origem do conflito:

Durante a Primeira Guerra Mundial, os britânicos fizeram promessas pouco realistas em troca de favores militares e financeiros. Aos árabes asseguraram que caso eles se rebelassem contra os otomanos (que não eram árabes), eles iriam apoiar a criação de um grande estado árabe no oriente médio, já aos judeus, garantiram que se eles apoiassem os britânicos contra o império otomano, o Reino Unido apoiaria a criação de um estado judeu na palestina. Não bastando duas promessas enroladas, os britânicos ainda firmaram com os franceses um acordo para dividir o oriente-médio entre a França e a Inglaterra. Ou seja, eles prometeram praticamente a mesma coisa para árabes, judeus, franceses além de para si mesmos. Não tinha como dar certo. Porém, os britânicos cumpriram sua promessa aos judeus na Declaração de Balfour, em 1917. Com apenas 3% da população da Palestina no final do século XIX, os judeus passaram a representar 30% nos anos 40. Durante esse período, a região ficou sob domínio britânico, que tentou impor regras diferentes para cada grupo étnico, o que apenas aumentou as tensões entre eles.

Os palestinos reagiram convocando o 1º Congresso Palestino, onde se posicionaram firmemente contra a imigração e a criação de um Estado judeu na região.

Em 1929, ocorreu o primeiro conflito significativo entre judeus e palestinos, que disputavam o acesso ao Muro das Lamentações. Os palestinos acusavam as autoridades britânicas de favorecerem os judeus, o que levou a um confronto violento resultando em derramamento de sangue de ambos os lados. Apesar dos desafios e dos conflitos, as bases para a criação de um Estado judeu já estavam sendo estabelecidas.

Durante a década de 1930, especialmente na Alemanha com a ascensão de Hitler ao poder, a perseguição aos judeus se intensificou drasticamente. Isso resultou em um aumento significativo na migração de judeus para a Palestina. Em 1931, o número de judeus na Palestina atingiu cerca de 174.600 pessoas.

Em 1939, teve início a Segunda Guerra Mundial e, junto com ela, o Holocausto. O Holocausto foi uma tragédia de proporções terríveis que envolveu a perseguição e eliminação em massa dos judeus e outras minorias étnicas pelos nazistas alemães. Campos de concentração e extermínio, como Auschwitz, foram criados para esse propósito, além de políticas estatais como o infame plano “Juízo Final”.

Durante o conflito mundial, na Palestina, os árabes muçulmanos encontraram uma aliança improvável com a Alemanha. Tinham dois inimigos em comum: os judeus e, em menor escala, os britânicos. A divisão entre cristãos, judeus e árabes deu origem a um sentimento nacionalista entre os árabes, que culminou na Grande Revolta de 1936 contra os britânicos, visando à independência. Com o apoio das milícias judaicas, os britânicos reprimiram os árabes em 1939.

Para enfrentar o impasse, os líderes britânicos organizaram a Comissão Peel, sob a liderança de Lord William Peel. Após minucioso estudo da situação, a comissão chegou à conclusão de que a violência eclodia devido à disputa de dois povos pelo mesmo território. Sua proposta radical visava à criação de dois estados independentes como solução para o conflito. O plano favorecia os árabes, reservando-lhes 80% do território, enquanto os judeus ficariam com os 20% restantes. Embora os judeus tenham aceitado a proposta, os muçulmanos a rejeitaram e retomaram os atos de violência.

No entanto, com a criação do Livro Branco em 1939, o Reino Unido esperava diminuir as tensões entre judeus e palestinos, equilibrando suas populações, limitando as compras de terras pelos judeus e, por fim, criando um Estado independente para ambos, coexistindo pacificamente. Parecia perfeito, não é mesmo? Bem, até mesmo o Reino Unido teve seus momentos de fantasia. Mas todas essas restrições deixaram os judeus bastante ressentidos.

Após o término da guerra e a derrota da Alemanha, os palestinos enfrentaram um duro revés: o Holocausto impulsionou fortemente a ideia de criação do Estado de Israel na comunidade internacional. Com apoio principalmente dos judeus dos Estados Unidos, os sobreviventes judeus europeus passaram a migrar em massa para a Palestina.

A região ainda estava sob o domínio britânico, que tomou medidas para tentar conter a imigração judaica. Em resposta, os judeus estabeleceram organizações paramilitares, como a Haganá, e começaram a realizar ações para ocupar o território e buscar a independência de Israel em relação à Grã-Bretanha.

Mas como o mandato do Reino Unido no Oriente Médio já se aproximava do fim, os britânicos, já cansados da situação, decidiram passar o problema da Palestina para a recém-formada Organização das Nações Unidas. A ideia era que a ONU dividisse o território entre palestinos e judeus, e retirasse Jerusalém do controle de ambos para evitar mais confusão. E para liderar essa complicada missão, escolheram ninguém menos que um brasileiro: Oswaldo Aranha.

A divisão estabelecida pela ONU em 1947 atribuiu cerca de metade do território para cada um dos dois povos, com Jerusalém designada como uma zona sob administração internacional. No entanto, essa divisão gerou conflitos imediatos entre Israel e Palestina. Havia uma contradição notável na divisão, já que os judeus, representando 30% da população, receberam uma porção maior do território, enquanto os palestinos, constituindo 70% da população, ficaram com uma parte menor. Além disso, os árabes argumentaram que seu território consistia principalmente em áreas menos produtivas e teriam acesso limitado à água potável.

Embora os judeus tenham aceitado a proposta, os árabes a rejeitaram. Mesmo assim, a Assembleia Geral da ONU aprovou a divisão em 29 de novembro de 1947. Com a retirada britânica da Palestina no ano seguinte, Israel foi proclamado como Estado em 14 de maio de 1948.

O conflito atual e sua repercussão no Brasil e no Mundo

As recentes declarações do chefe de Estado Luiz Inácio Lula da Silva, que equiparou as ações de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto, provocaram uma reação intensa, tanto nacional quanto internacionalmente. Ao adotar uma posição crítica em relação a Israel, Lula não apenas destacou o país no movimento de oposição à política israelita sobre os palestinos, mas também desencadeou uma série de eventos que ressoaram em esferas diplomáticas, políticas, sociais e midiáticas.

A afirmação chocante de Lula não foi um deslize ocasional, mas sim uma expressão de uma postura defendida pelo PT e grande parte da esquerda ao longo das décadas, como evidenciado por diversas figuras do governo e do partido. “A declaração de Lula abalou o mundo e provocou uma avalanche de emoções que pode contribuir para resolver um problema que a frieza dos interesses políticos não conseguiu solucionar”, comentou Celso Amorim, assessor especial do presidente da República. “Orgulho do meu esposo”, escreveu a primeira-dama Janja em suas redes sociais. “O presidente Lula ergueu sua voz e usou sua autoridade”, disse o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida.

Por outro lado, as respostas não se limitaram ao campo diplomático. No Brasil, movimentos sociais, sindicatos e líderes políticos expressaram suas opiniões sobre o assunto, refletindo visões divergentes sobre as declarações do presidente. Organizações judaicas, como o Instituto Brasil-Palestina e a Confederação Israelita no Brasil (Conib), apresentaram perspectivas contrastantes, destacando a complexidade do debate em torno do conflito israelo-palestino e do Holocausto.

O Departamento de Proteção Comunitária (DPC) da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) relatou um aumento significativo de 241% nas denúncias de antissemitismo recebidas após 18 de fevereiro de 2024. Na semana anterior a essa declaração, o DPC registrou 46 denúncias de antissemitismo. Nos quatro dias seguintes ao discurso, o número saltou para 157. A maioria dessas manifestações de antissemitismo foi observada em plataformas de mídia social e em conversas em aplicativos de mensagens. Também foram relatados casos de agressões verbais contra estudantes judeus em ambientes educacionais. “A afirmação feita pelo presidente distorceu gravemente a realidade, uma vez que estamos enfrentando um aumento nos ataques antissemitas desde o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro, e essa tendência se intensificou após a declaração.

Os judeus no Brasil estão sendo alvos em todos os lugares. Quatro desses relatos são particularmente preocupantes, pois envolvem jovens em idade escolar que foram agredidos dentro das próprias instituições de ensino, colocando em risco sua segurança. O Brasil deveria assumir um compromisso mais efetivo com a paz”, declarou Marcos Knobel, presidente da Fisesp, em comunicado oficial.

O contexto internacional também não ficou imune às declarações de Lula. A reação do governo israelense às palavras do presidente brasileiro reflete a sensibilidade do tema e a importância das relações diplomáticas entre os dois países. O fato de Lula ter sido designado como persona non grata por Israel, em resposta às suas declarações, intensificou ainda mais as tensões entre os dois governos e destacou as profundas divisões em relação ao conflito israelo-palestino.

“Ao comparar a operação militar de Israel em Gaza contra o Hamas, uma organização terrorista genocida, ao Holocausto, o presidente Lula desrespeitou a memória de 6 milhões de judeus mortos pelos nazistas e demonizou o Estado Judeu como o mais virulento antissemita, o que é inaceitável”, afirmou o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.

Enquanto o líder máximo do Brasil expressa uma visão crítica em relação a Israel em seus discursos, algumas figuras políticas brasileiras contradizem as opiniões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e demonstram apoio ao país do Oriente Médio. Este foi o caso dos governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Ronaldo Caiado (União Brasil), que estiveram em Ranana, Israel, a convite do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, durante uma agenda que ocorreu no dia 19 de março de 2024.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, elogiou Israel e destacou que a declaração de Lula não reflete a posição do Brasil. “Lamentamos que autoridades no exterior deturpem a posição do Brasil sobre o assunto, especialmente num momento em que a comunidade internacional está preocupada com os civis palestinos”, afirmou um trecho do comunicado divulgado.

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, endossou as críticas. “A fala do presidente Lula não reflete o pensamento do Brasil. Peço desculpas aos judeus. Um homem que desconhece a história proferiu palavras que ofendem a todos vocês”, afirmou.

Essas divergências de posicionamento político no Brasil refletem uma tensão latente em relação às relações com Israel e ao conflito israelo-palestino. Enquanto algumas lideranças apoiam as declarações críticas de Lula e buscam uma postura mais contundente em relação a Israel, outras defendem uma abordagem mais equilibrada e procuram manter boas relações diplomáticas com o Estado judaico.

Em meio a esse cenário de polarização, a sociedade brasileira se vê envolvida em um debate complexo e multifacetado, que envolve questões históricas, políticas, diplomáticas e humanitárias. Enquanto o país enfrenta esse desafio de conciliar diferentes perspectivas e interesses, o papel das lideranças políticas e da sociedade civil se torna fundamental na busca por soluções pacíficas e justas para o conflito no Oriente Médio.

Fontes:

Declaração Balfour, as 67 palavras que há 100 anos mudaram a história do Oriente Médio – BBC News Brasil

Guerra Israel e Palestina – Resumo das Causas Históricas (brasilparalelo.com.br)

Israel: Uma história – Anita Shapira – Google Livros

Judeus Suas Extraordinárias Histórias e Contribuições para o Progresso da … – Marcelo Szpilman – Google Livros

Uma história dos povos árabes – Albert Hourani – Google Livros

Declaração Balfour, as 67 palavras que há 100 anos mudaram a história do Oriente Médio – BBC News Brasil

Morris, Benny (2008), 1948: The First Arab-Israeli War, Yale University Press, New Haven, ISBN 978-0-300-12696-9

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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