O presidente Lula tem criticado os juros altos e a atuação do Banco Central (BC) na condução da política monetária. O objetivo do governo é incentivar o crescimento econômico por meio de uma medida altruísta para facilitar o acesso ao crédito para empresas e famílias.
É fato que juros mais baixos incentivam o consumo e novos investimentos, gerando empregos, renda e o almejado crescimento econômico. Mas o caminho não é diminuir as taxas de maneira artificial por uma decisão arbitrária do governo ou do BC.
A taxa de juros é mais que um número, ela incorpora a expectativa de inflação e um prêmio pelo risco assumido pelos bancos e investidores, que exigem um percentual maior quando entendem que o risco é maior.
No Brasil, e em qualquer país emergente, os principais determinantes do risco são a segurança jurídica e a confiança nas instituições. O campo jurídico envolve a regulamentação, a alteração de leis e a interferência governamental no mercado e nas empresas, como nos casos recentes na Vale e na Petrobras.
A confiança nas instituições está ligada à divisão dos poderes, percepção em relação à corrupção e ao funcionamento do mercado financeiro como um todo. O país também regrediu nessa seara por conta do aparelhamento das instituições e indicações políticas ao Supremo, que se refletiram na piora do índice medido pela Transparência Internacional, divulgado recentemente.
O cenário fiscal é o terceiro elemento, e afeta tanto o prêmio de risco quanto a expectativa de inflação. O déficit das contas públicas evidencia o descompromisso do governo, aumenta o risco de calote e desvaloriza a moeda, gerando inflação.
Esse conjunto de fatores é o que direciona o investimento estrangeiro (IDP), ou seja, a entrada de recursos no país, que apresentou queda de 17% no primeiro ano do governo. Para baixar os juros, é necessário que mais capital seja investido.
Se o Lula está realmente preocupado com as taxas de juros e com o crescimento da economia, deve rever suas atitudes imediatamente. A narrativa altruísta de baixar juros na marra pode servir para a mídia governista enganar a população, mas o resultado não sai como a expectativa.
Gustavo Machado
Consultor de investimentos e associado do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)