Por Rafael Moredo*
O governo brasileiro enfrenta desafios econômicos significativos, com dificuldades para cumprir suas responsabilidades fiscais. Uma matéria da Folha de S.Paulo, publicada em 30 de junho, destacou que o presidente Lula resiste a cortes de gastos, ampliando incertezas nas contas públicas. A equipe econômica redireciona o foco para a redução de despesas, mas o presidente descarta opções, prolongando o vaivém na política fiscal.
No entanto, em vez de abordar diretamente essas dificuldades, o presidente Lula tem direcionado críticas ao Banco Central (BC) e ao seu presidente, Roberto Campos Neto, pelas altas taxas de juros. Em março, por exemplo, Lula afirmou que Campos Neto ‘contribuía para o atraso do crescimento econômico’. Tais declarações têm efeitos imediatos no mercado, elevando o custo do crédito e gerando mais instabilidade frente a movimentações externas adversas.
A autonomia do Banco Central é um princípio fundamental defendido pelos economistas liberais e pelo movimento Livres. Um BC independente atua como um baluarte contra influências políticas de curto prazo, permitindo que as decisões monetárias sejam tomadas com base em critérios técnicos e objetivos de longo prazo, como o controle da inflação e a estabilidade financeira, especialmente em um cenário político polarizado.
Quando o BC é submetido a pressões políticas, como as que observamos recentemente, a confiança dos investidores e do mercado financeiro é abalada. Isso pode resultar em volatilidade cambial, aumento do risco-país e consequente elevação dos custos de financiamento para o governo e para as empresas. Em um cenário de incerteza, a moeda nacional se desvaloriza, impactando diretamente os preços dos produtos importados e, consequentemente, a inflação.
Na segunda-feira (01), véspera da cotação recorde da moeda americana, Lula disse que o próximo presidente do BC olhará para o Brasil “do jeito que ele é, e não do jeito que o sistema financeiro fala”. Essas falas, além de gerarem incerteza no mercado, contribuíram para que o dólar atingisse R$ 5,70 na terça-feira (02), marcando o maior patamar desde janeiro de 2022.
Essas oscilações são reflexo direto das incertezas geradas pelas falas do presidente. Falas essas que, ao invés de tranquilizar o mercado, têm o efeito contrário quando acompanhadas de críticas constantes à independência da instituição. O presidente parece esquecer que a maioria das decisões do COPOM (Conselho de Política Monetária) são unânimes, com votos de diretores indicados tanto por Lula, quanto por Bolsonaro.
Experiências internacionais demonstram que países com bancos centrais independentes tendem a ter inflação mais baixa e crescimento econômico mais robusto. A autonomia do BC é defendida inclusive por diretores indicados pelo próprio Lula, que reconhecem a independência como um pilar da credibilidade da política econômica.
A recente alta do dólar e a volatilidade do mercado cambial são um lembrete da importância da autonomia do Banco Central. Para garantir a estabilidade econômica e a confiança dos investidores, é fundamental que o BC possa atuar de forma independente, livre de pressões políticas.
Para resolver os problemas econômicos do Brasil, o governo deveria começar não arranjando culpados, mas sim abordando a questão fiscal com seriedade, cortando gastos desnecessários e implementando políticas fiscais responsáveis.
*Rafael Moredo é Analista de Relações Governamentais do Livres