Por Indiara Barbosa*
A casa própria é um sonho de boa parte dos brasileiros. Ter casa é ter estabilidade. E ter estabilidade em um país instável como o Brasil pode ser considerado um artigo de luxo.
Em Curitiba, hoje, um apartamento em um bairro de classe média como o Cabral pode variar de R$ 600 mil a R$ 1 milhão de reais. Um valor muito alto, porém é a realidade financeira de uma cidade que não para de crescer.
No mesmo bairro Cabral, em maio de 2024, a Prefeitura de Curitiba inaugurou uma nova estação de ônibus. A estação é equipada com tecnologia para captação de energia solar e, sendo assim, autossuficiente. Seu valor: R$ 4 milhões de reais, ou quatro grandes apartamentos na mesma região.
Podemos exercitar mais a imaginação: uma escola municipal em qualquer bairro de Curitiba pode chegar a custar R$ 6 milhões. E, para ampliar a escala: a Linha Verde, infame obra que arrastou-se por mais de 17 anos na cidade, apenas em seu lote do Trevo do Atuba, custou R$ 157 milhões.
Observando de fora, há uma tendência para que imaginemos que tudo o que é de feitio de uma prefeitura e, sendo assim, financiado pela sociedade, não deve ser tão caro. Porém, não afetado pela especulação imobiliária presente no Cabral, a estação ainda teve o custo que teve, seja ela no Cabral, no Água Verde ou no Osternack. O mesmo vale para todo tipo de obras e salários de funcionários, atenda o servidor na região central ou na periferia.
Para quem não está acostumado, os valores assustam. Em 2024, o orçamento para a cidade chegou a 12 bilhões de reais. Ou mais de 12 mil apartamentos de luxo no Cabral. Desse valor quase metade é gasto com funcionários. E, quando falamos em áreas de atuação, o maior gasto é com previdência seguido de saúde e educação.
Como garantir que uma cifra dessa magnitude seja alocada e utilizada da melhor forma possível? E, mais simples que isso, como saber que cada real vai parar no seu devido lugar? Quanto se perde no emaranhado de compras e burocracias entre o projeto e execução de uma obra? Quanto desperdício poderia ser evitado otimizando processos e cortando penduricalhos? Quanto desses valores são abocanhados pela corrupção?
É fácil pensar em dezenas, talvez centenas, de perguntas sobre o universo do orçamento público. Por onde começar? Ao longo dos anos em que atuei como auditora fiscal, tive a oportunidade de hoje poder responder boa parte destas perguntas com apenas uma duas palavras: transparência e fiscalização.
Subestima-se muito o peso e valor da transparência. Um município que assume o compromisso de publicizar adequadamente como, quando e onde aloca seus recursos não apenas cumpre com seu dever para com a lei, ele honra cada cidadão responsável por sua própria saúde financeira.
Como vereadora, hoje, posso falar com propriedade: há muita ineficiência. Em quase quatro anos de mandato detectamos milhões de reais em desperdícios e fiscalizamos bilhões em compras e contratos, olhamos onde poucos olham.
Não basta apenas uma vereadora examinando prestações de contas, diários oficiais, contratos, obras e balanços. A população também deve ter parte nisso, você também precisa saber e cobrar.
Em Curitiba ainda há escolas precarizadas, postos de saúde caindo aos pedaços, estações tubo com goteiras e mil outros problemas. E mesmo assim, vemos diversos gastos que julgamos desnecessários, tal como uma estátua de girafa para adornar o Jardim Zoológico no valor de R$ 100 mil reais. Tem sentido?
Será que 12 bilhões é suficiente ou precisamos de mais? Independentemente da resposta, podemos melhorar, e muito, como gastamos esse dinheiro. E todos nós devemos ser parte disso.
*Vereadora Indiara Barbosa, auditora contábil, mãe e vereadora mais votada de Curitiba, ainda no primeiro mandato. Indiara é integrante do LOLA Brasil.