Por Rafael Moredo*
O governo federal voltou a prometer, desta vez pela voz do ministro Fernando Haddad, que o tão aguardado pacote de corte de gastos está “pronto” e será divulgado “em breve”. No entanto, a cada anúncio similar, aumenta a desconfiança da sociedade sobre a real disposição da atual administração em enfrentar de forma decisiva o descontrole fiscal que ameaça o país.
O Brasil precisa de ação, não de discursos. Desde o início do ano, assistimos ao governo insistir em soluções paliativas que priorizam o aumento da arrecadação via elevação de impostos e alargamento da máquina estatal. Enquanto isso, a discussão sobre cortes de despesas permanece relegada a promessas vagas. Essa postura não é apenas um erro técnico — é uma afronta a quem trabalha e produz no país.
O liberalismo preconiza a redução do peso do Estado para liberar o potencial da sociedade. Países que prosperaram economicamente adotaram modelos com governos menores, mais eficientes e menos intervencionistas. No Brasil, porém, os gastos públicos consomem uma fatia cada vez maior do PIB, comprometendo a capacidade de crescimento econômico.
O governo parece ignorar a urgência de cortar gastos. Nos últimos anos, a despesa com funcionalismo público em diversas capitais, por exemplo, continua em patamares incompatíveis com a realidade econômica do país. Os salários pagos ao alto escalão da administração pública demonstram o descompasso com indicadores econômicos locais, como a renda média da população e o PIB per capita. O levantamento inédito do Livres, compilando dados da FGV e IBGE, expõe a verdadeira face do descontrole fiscal, a captura do orçamento público por grupos de interesse: enquanto vereadores e prefeitos recebem salários que ultrapassam os R$ 20 mil mensais em muitas cidades, a renda média local mal chega a um décimo disso.
Em São Paulo, a maior cidade do país, os vereadores passarão a receber R$ 26.080,98 em 2025, um aumento significativo em relação aos R$ 18.991,68 atuais. Este salário é cerca de 7,4 vezes a renda média da população, que é de R$ 3.542. Mesmo em uma cidade com o PIB per capita mais alto do país entre as capitais (R$ 66.872,84), a diferença salarial é gritante, reforçando a sensação de que as prioridades do Legislativo estão desconectadas da realidade socioeconômica.
A situação é ainda mais discrepante em cidades com menor PIB per capita e renda média. Em Macapá, no Amapá, os vereadores aprovaram um aumento de salário para R$ 19.300,00, um valor impressionante considerando que a renda média local é de apenas R$ 979,92. Isso significa que o salário dos vereadores será quase 20 vezes a renda média da população.
Casos semelhantes se repetem em outras capitais, como:
- Manaus (AM): salário de R$ 18.991,69 para vereadores contra uma renda média de R$ 1.012,45 (18,7 vezes maior);
- Natal (RN): salário de R$ 26.000,00 para vereadores frente a uma renda média de R$ 1.562,95 (16,6 vezes maior);
- Porto Velho (RO): salário de R$ 20.864,78 contra renda média de R$ 1.251,56 (16,6 vezes maior).
Essa análise revela a urgência de ajustar a máquina pública à realidade econômica de cada localidade. Salários desproporcionais não apenas drenam recursos que poderiam ser alocados em áreas essenciais, como também simbolizam a desconexão entre o Estado e as necessidades do cidadão comum.
No Brasil, a máquina pública não apenas pesa nos cofres públicos, mas impõe uma carga tributária sufocante, necessária para mantê-la. Esse ciclo vicioso inibe o crescimento econômico, expulsa investimentos e reduz o poder de compra dos cidadãos. Além disso, a falta de austeridade desvia o foco do que realmente importa: saúde, educação, segurança e infraestrutura. O governo não pode continuar empurrando a responsabilidade para os ombros do contribuinte
O Brasil precisa de lideranças que tenham coragem de enfrentar o problema do descontrole fiscal pela raiz. O levantamento apresentado aqui expõe a gravidade do problema: uma máquina pública inflada, desconectada da realidade da população, perpetua ineficiências que travam o progresso do país.
Os brasileiros merecem mais do que promessas vazias. É hora de cortar gastos de forma inteligente, priorizar investimentos produtivos e devolver ao cidadão o protagonismo no desenvolvimento nacional. Sem isso, continuaremos reféns de um Estado que custa caro e entrega pouco.
*Rafael Moredo é Analista de Relações Governamentais do Livres