Por 364 votos a 111, o parlamento britânico, controlado pelo Partido Trabalhista, de esquerda, negou na quarta-feira, 8, a abertura de um inquérito sobre gangues de estupradores paquistaneses que aliciaram milhares de meninas britânicas em cidades do interior.
Os abusos acontecem pelo menos desde a década de 1970 e ganharam proeminência em 2011 após reportagem do jornalista Andrew Norfolk. A investigação apontou que autoridades tentaram acobertar o caso para proteger a imagem de uma “bem sucedida sociedade multicultural”, destaca o jornal The Telegraph.
O assunto voltou ao debate público quando a ministra da Proteção às Mulheres e Meninas do governo trabalhista, Jess Phillips, barrou uma investigação sobre o primeiro-ministro Keir Starmer por negligência no caso. Starmer era procurador-geral da Coroa em 2012, e encarregado na época de investigar as denúncias de abuso.
A repercussão do tema aumentou após o empresário Elon Musk comentar o escândalo em sua conta no X e acusar Starmer de ser um “cúmplice do estupro na Grã-Bretanha.”.
“Crimes graves como estupro exigem permissão da Procuradoria-Geral da Coroa para que a polícia indicie os suspeitos. Quem era o chefe da Procuradoria quando as gangues de estupradores foram autorizadas a abusar de meninas sem temer a justiça? Keir Starmer (2008-2013). Quem é o chefe de Jess Phillips agora? Keir Starmer. O verdadeiro motivo pelo qual ela se recusa a investigar as gangues de estupradores é que isso obviamente mostrará a culpa de Keir Starmer.”, afirmou o bilionário, que também exigiu a renúncia do primeiro-ministro.
“Receio de parecerem racistas”
A investigação de Norfolk, em parceria com a ativista local Jayne Senior, revelou que entre 1997 e 2013 cerca de 1400 crianças de 11 e 16 anos foram violentadas por gangues paquistanesas somente na cidade de Rotherham, no condado de South Yorkshire. Segundo o relatório, o número real pode ser muito maior. Dezenas cidades da Inglaterra e Escócia também registraram denúncias semelhantes.
A professora Alexis Jay, que preside o Centro de Excelência para Proteção e Cuidado das Crianças (CELCIS) foi responsável por divulgar um relatório em 2022. O documento ressalta que havia “relutância em investigar crimes cometidos pelo que foi descrito como a comunidade ‘asiática’”.
Em Rotherham, as vítimas eram quase todas brancas, e os criminosos eram paquistaneses na sua grande maioria. Esse grupo representa apenas 3% da população da cidade. Segundo o The Telegraph, as autoridades tinham “receio de parecerem racistas” e por isso ignoravam denúncias.
Muitas das crianças vítimas viviam em condição de vulnerabilidade, com um terço delas registradas no serviço social. Desde 2010, diversos inquéritos policiais foram abertos e cerca de 60 abusadores condenados até o momento. O relatório de 159 páginas trouxe diversas recomendações para lidar com o problema, mas medidas não foram implementadas.
A nova discussão sobre o escândalo traz esperança para as vítimas, que durante muito tempo se sentiram abandonadas.
“Não é algo bonito de ver, mas ajuda que alguém esteja falando sobre isso e nos defendendo. Sinto como se tivessem esquecido de nós.” afirma uma vítima à agência Reuters, em condição de anonimato.