Ontem numa aula de uma matéria optativa de Direito, estávamos falando sobre direitos trabalhistas e o assunto chegou numa discussão sobre a CLT. Então, foi levantado pela professora a questão do Uber, onde a maiorias dos motoristas de aplicativo não querem uma regulamentação.
A turma defendeu a regulamentação e a interferência do Estado, pois, segundo eles, assim o motorista terá amparo da empresa caso se acidente durante o trabalho, e também previdência social.
Um colega trouxe os pontos que eles ignoram: um motorista de aplicativo faz corridas quantas horas quiser, e com a regulamentação não poderá. Isso diminui a sua renda drasticamente, pois a maioria desses motoristas conseguem fazer uns dois salários mínimos em muitas horas corridas, e boa parte também fazem deste trabalho sua renda complementar, então sairiam da função se houvesse uma regulamentação onde precisassem cumprir horas estabelecidas.
Então eu disse: o único argumento de vocês para a regulamentação é um problema hipotético: um possível acidente, que eles podem resolver fazendo um seguro de vida, e a previdência, que pode ser resolvido com uma previdência privada. Veja: são duas coisas importantes, mas não são a prioridade da maior parte dos brasileiros, que trabalham pelo pão de cada dia.
Infelizmente, esta é a realidade. E eles não querem sacrificar a autonomia que possuem, nem a liberdade de horas e renda, por uma regulamentação que não atende os seus maiores interesses. E a opinião desses motoristas deve ser a única considerada, porque eles são cidadãos plenamente competentes para decidirem suas próprias vidas. Nada que pensássemos ali como acadêmicos, superava a legitimidade do que esses motoristas querem.
Uma colega chegou a se preocupar com a autonomia plena da Uber, por exemplo, ao que se refere à comissão dos motoristas por corrida. Ela perguntou: sem regulamentação, e se um dia a Uber decidir cobrar 60% das corridas?
Então falei: aí quem perderia seria a Uber, porque perderia prestadores de serviço. O motorista, a partir do momento que for prejudicado, tem a liberdade de sair. E o colega anterioremente citado explicou um pouco sobre como funciona a dinâmica orgânica de cobrança dos aplicativos de corrida, que basicamente é a autorregulação do mercado, que torna desnecessária a “mão invisível” do Estado.
É isso que eles não entendem. Acham que toda empresa é maligna e explora os funcionários, como se no capitalismo não tivéssemos a escolha de permanecermos ou não onde estamos empregados. E que, de alguma forma, justamente pela liberdade de competição, as empresas visam muito mais a satisfação de seus funcionários do que fariam no socialismo.
Eles debocharam, dizendo que chega a ser engraçado esse papo de “ser o próprio chefe”, que eles tem pena, e agem como se o funcionário não pudesse negociar com a empresa sozinho, sem a interferência do Estado.
O engraçado é que a vida dos marxistas gira em torno da problemática entre funcionário e patrão, mas quando um cidadão é livre, seu próprio chefe e etc, eles querem a todo custo que ele se submeta ao grande patrão Estado. Você sempre vai ver essa galera falando mal da CLT, menos quando for sobre esse tipo de caso, onde alguém está super bem num Uber da vida, mas eles querem que ele vire CLT.
O marxismo é um descolamento da realidade, mas os marxistas acham que são pelo povo. A gente vê a verdade em horas assim: quando o povo não quer o que eles querem, eles dizem que o povo é burro, que sofreram lavagem cerebral, que são “cadelinhas” do capitalismo… E que eles são os únicos iluminados suficientemente instruídos para decidir todas as coisas políticas.
O marxismo tem um profundo desprezo pela realidade, e para ser bem sincera, espero que a realidade chegue aos meus colegas, para que eles vejam que o que pensam não faz bem a nenhum ser humano da Terra.