“O medo de falar virou consenso”.
Foi assim que Karim Miskulin, presidente do Grupo Voto, resumiu um sentimento cada vez mais presente no Brasil. No painel dedicado à liberdade de expressão no Fórum da Liberdade 2025, em Porto Alegre, Karim dividiu o palco com o deputado federal Marcel van Hattem (NOVO-RS) e com o advogado constitucionalista André Marsiglia, primeiro advogado a atuar no controverso Inquérito das Fake News.
A mesa discutiu o avanço preocupante da censura e da autocensura no país. O alerta dos palestrantes permanece atual devido às contínuas ações judiciais e políticas que restringem a liberdade de expressão.
🔴 Censura silenciosa: o medo como arma contra a democracia
Em sua fala, Karim enfatizou que hoje muitos brasileiros têm receio não apenas da censura tradicional — judicial ou estatal — mas também do cancelamento, das hostilizações e da exclusão social em razão das opiniões que expressam. Para ela, esse medo silencioso é, talvez, ainda mais perigoso:
“Se nós deixarmos que o medo cale a nossa verdade, seremos ouvidos pela metade. Precisamos ter coragem não só de gritar, mas de fazer nossa voz ser ouvida”, afirmou a presidente do Grupo Voto.
Relembrando a trajetória da revista que fundou, ela destacou que a coragem sempre foi essencial para sobreviver num ambiente hostil e politicamente polarizado. Hoje, o Brasil precisa dessa mesma coragem para preservar uma democracia inteira, não pela metade.
🔴 A censura institucionalizada e secreta denunciada por Marcel van Hattem
Um dos relatos mais chocantes foi feito por Marcel van Hattem. O deputado federal revelou que, recentemente, sua conta na rede social X (antigo Twitter) quase foi suspensa por ordem do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O motivo era inacreditável: uma ordem judicial exigia a remoção de um vídeo crítico ao Ministério Público do Trabalho durante as eleições, vídeo esse que Marcel nunca havia sequer publicado na plataforma.
“O X respondeu ao TSE: ‘Não podemos remover o vídeo porque ele nunca foi postado aqui’. O juiz auxiliar de Alexandre de Moraes respondeu então: ‘Derrube a conta inteira’. Esse é o nível de arbítrio que vivemos hoje no Brasil”, denunciou Marcel.
O deputado lembrou ainda das revelações feitas em 2024 nos chamados Twitter Files, durante o próprio Fórum da Liberdade do ano passado, indicando que tais práticas de censura institucionalizada têm raízes profundas e consequências diretas sobre a democracia.
🔴 André Marsiglia: inquéritos intermináveis e o risco ao Estado Democrático
André Marsiglia trouxe uma perspectiva jurídica preocupante ao painel. Como primeiro advogado a atuar no caso do inquérito das Fake News instaurado pelo Supremo Tribunal Federal, ele destacou como esses processos têm sido usados não para proteger a democracia, mas para enfraquecê-la.
“Hoje, as autoridades públicas tratam a censura como se ela fosse sinal de liberdade. Temos inquéritos abertos desde 2019 que não acabam nunca. E sabem por quê? Porque se acabarem com um, terão que acabar com todos”, criticou o especialista.
Marsiglia apontou que há mais de uma centena de pessoas envolvidas nesses inquéritos, muitas delas com suas vidas devastadas ou ameaçadas por processos judiciais intermináveis e muitas vezes absurdos.
🔴 O alerta permanece: coragem é necessária
As denúncias feitas por Karim, Marcel e Marsiglia no Fórum da Liberdade 2025 vão além do evento e mostram claramente que o Brasil vive hoje uma situação de vulnerabilidade democrática. O país parece ter se acostumado a uma espécie de censura implícita, muitas vezes disfarçada sob o argumento do combate às fake news ou da proteção social.
A mensagem final do painel foi unânime e urgente: é necessário ter coragem. Coragem para falar, coragem para questionar e, principalmente, coragem para enfrentar as consequências que a defesa da liberdade inevitavelmente traz.
Afinal, como resumiu Karim Miskulin, “sem coragem, não há democracia completa”.