Com o resultado das prévias na Argentina, já temos novo presidente lá ou é melhor esperar o resultado da eleição no dia 27 de outubro? Guardadas as semelhanças entre o que acontece aqui e o que se passa na Argentina no confronto ideológico, corre-se o risco de Jair Bolsonaro estar na posição do Macri em 2022?
Desde 2009, os argentinos votam para presidente em duas oportunidades. A primeira, numa prévia eleitoral, para decidir quem tem, de fato, representatividade para a disputa e, logo depois, quem, entre os escolhidos, será o presidente. As prévias servem para que os partidos resolvam, antes da campanha principal, as disputas internas entre diversas correntes e chapas.
Este ano, nos partidos na Argentina, não houve fragmentação. Então, o resultado das prévias confirmou a polarização da última eleição entre os Kirchners, representados pela chapa que tem a ex-presidente, hoje senadora, Cristina Kirchner na vaga de candidata a vice e os liberais, na pele do presidente Mauricio Macri, que tenta a reeleição.
Por isso, quando 47,9% dos eleitores argentinos avisam preferir os Kirchners na disputa, indicam que os votos deles, na eleição principal, já têm destino. A eleição estaria, portanto, decidida desde agora e no primeiro turno a favor dos Kirchners.
Pode ser que sim, mas pode ser que não e é bem verdade que as chances são de se ter mais sim do que não. Os Kirchners são os favoritos com larga vantagem.
Contudo, 60 dias numa campanha é uma eternidade, porque nós, eleitores, temos caprichos, somos exigentes, instáveis e nenhum incômodo sentimos quando mudamos de opinião. E tem mais: aproveitamos cada segundo que temos nos processos de decisão, por isso, as campanhas, no mundo todo, têm um acervo respeitável de grandes viradas.
Macri venceu os Kirchners em 2015 por acreditar nisso. Ele virou o jogo e venceu a eleição no segundo turno, com os adversários que lideraram todas as pesquisas até o final do primeiro turno.
Mas, seja qual for o resultado final da campanha na Argentina, há lições de estratégia a tirar do episódio. A primeira serve para o próprio Macri: é a importância da gestão de um mandato na consolidação de um projeto político.
Macri chegou em segundo lugar nas prévias, com risco real de perder a reeleição, porque não entregou o que prometeu ou não soube justificar-se. A reorganização da economia argentina era e é um desafio nada fácil de vencer, mas ele e a equipe dele chegaram ao governo com absoluto desdém pelas dificuldades.
Macri chegou em segundo lugar nas prévias, com risco real de perder a reeleição, porque não entregou o que prometeu ou não soube justificar-se. A reorganização da economia argentina era e é um desafio nada fácil de vencer, mas ele e a equipe dele chegaram ao governo com absoluto desdém pelas dificuldades.
Tudo parecia fácil demais para os liberais num contraponto com um governo populista e de esquerda. Entretanto, os resultados não apareciam em forma de emprego, crescimento econômico e redução da inflação. Quando chegou a hora de o governo apelar para o FMI, o povo foi para as ruas. Como o adversário vencido em 2015 ainda respirava, ganhou fôlego e se levantou.
A segunda lição vai para os demais agentes políticos. Eles acomodaram-se à polarização entre Cristina Kirchner e Macri e desapareceram. Por óbvio, as polarizações na política só interessam aos pólos. Quem não estiver neles só terá como alternativa, para sobreviver, anular, pelo menos, um deles. Foi exatamente o que fez Jair Bolsonaro na campanha passada.
Sabe-se que são semelhantes as trajetórias do presidente Jair Bolsonaro e do presidente Mauricio Macri. Os dois venceram a primeira eleição num confronto direto com estruturas instaladas há muito tempo no poder e com perfil ideológico parecido. Jair Bolsonaro derrotou a turma do Lula, no poder há 16 anos, contados, por justiça, os dias de Michel Temer na Presidência, e Macri venceu os Kirchners que estavam há 12 anos na presidência. Para enfrentarem os problemas na economia, Macri e Bolsonaro chamaram os liberais, com pesados currículos acadêmicos e posições firmes no que se refere ao papel do Estado.
As semelhanças ficarão por aí ou chegaremos em 2022, no Brasil, com Bolsonaro com dificuldades para vencer a turma da esquerda?
A resposta virá da capacidade dele aprender com os erros do colega argentino, para não subestimar as dificuldades, não superestimar a polarização como garantia de vitória e apresentar resultados concretos na economia.
É aguardar e torcer.